Como se encontrar uma bactéria que transfomasse açúcar em plástico não fosse desafio suficiente, cientistas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) descobriram uma nova espécie bacteriana em canavial que realiza esse processo com mais eficiência do que qualquer outra conhecida.
A Burkholderia sacchari, como está sendo chamada, alimenta-se diretamente de açúcar e transforma o excedente de seu metabolismo na forma de um plástico biodegradável chamado PHB (poli-hidroxibutirato). "O polímero é um material de reserva para a bactéria como a gordura o é para os mamíferos", explica José Gregório Gomez, um dos pesquisadores do Agrupamento de Biotecnologia do IPT que ajudaram a isolar a bactéria.
O objetivo é empregar a B. sacchari na produção industrial de PHB, que desde o mês passado está sendo produzido em pequena escala por uma divisão da Usina da Pedra, em Serrana (SP). Atualmente, outra bactéria é usada com a mesma finalidade, a Ralstonia eutropha. Se os testes com a B. sacchari derem certo, ela deverá substituir a R. eutropha no processo. O projeto, de US$ 5 milhões, é uma parceria do IPT com a Universidade de São Paulo (USP) e a Copersucar.
Cadeia produtiva - A vantagem da B. sacchari é que ela pode ser integrada totalmente à linha de produção da usina de açúcar. A energia para cultivo da bactéria vem da queima de bagaço de cana. O alimento é o próprio açúcar e o solvente usado para retirar o polímero das bactérias é um derivado da produção de etanol.
Até os efluentes da linha de produção têm aplicação dentro da cadeia produtiva: são usados para adubar e irrigar as plantações. Segundo os pesquisadores do IPT, para cada 3 quilos de açúcar utilizado para alimentar as bactérias é possível obter 1 quilo de plástico. "O grande potencial dessa bactéria é que ela pode metabolizar o açúcar diretamente", disse o engenheiro Carlos Rossell, chefe de divisão de processos do Centro de Tecnologia Copersucar.
No caso da R. eutropha, isso não acontecer, pois a sacarose precisa ser quebrada em moléculas menores a fim de ser absorvida pelo microorganismo.
Segundo Rossell, testes de produção com a B. sacchari devem começar no ano que vem.
Para a produção do PHB, a bactéria passa por um verdadeiro processo de engorda e abate. No início, a B. sacchari recebe uma alimentação balanceada para que possa multiplicar-se rapidamente.
Depois, a colônia é superalimentada com açúcar para as bactérias engordarem, chegando a acumular 80% de sua massa na forma de grânulos de PHB. Por último, um solvente é usado para destruir a parede celular da bactéria e extrair o polímero. O produto final é um granulado de plástico biodegradável que, depois de receber aditivos e ser compactado na forma de pastilhas, é comercializado para a indústria.
Surpresa - A B. sacchari foi descoberta em um canavial de Piracicaba em 1994, mas só no início deste ano os cientistas descobriram que se tratava de uma espécie nova. O trabalho será publicado na revista científica International Journal of Systematic and Evolutinary Microbiology.
A partir daí, a bactéria seria reconhecida oficialmente como uma nova espécie.
Inicialmente, os pesquisadores identificaram 300 espécies de bactéria que se alimentam de sacarose. Apenas 70, no entanto, eram capazes de produzir o PHB. Dessas, os cientistas do IPT selecionaram as duas mais promissoras e, finalmente, chegaram à B. sacchari. "Enviamos amostras para laboratórios na Alemanha e na Bélgica, mas não bateram com nenhuma das espécies conhecidas", conta a pesquisadora Luiziana Ferreira da Silva, do IPT.
A grande expectativa dos cientistas agora é ver o plástico biodegradável ganhar espaço no mercado mundial. "São poucas as tecnologias de ponta sobre as quais conseguimos ter algum controle no Brasil", diz a pesquisadora Marilda Keico Taciro, também do IPT. "Temos uma oportunidade muito rara de estar competindo com o meio científico internacional."
Mutante - Mesmo antes da descoberta da nova bactéria ser publicada em uma revista científica, os cientistas do IPT já criaram uma versão mutante da B. sacchari que poderá produzir PHB em quantidades maiores e em formato mais flexível e mais resistente. "Deletamos geneticamente uma via metabólica para que quase toda a sacarose seja usada na produção do polímero", explica Luiziana, que já requisitou uma patente para a bactéria mutante.
Fonte: Herton Escobar / Jornal O Estado de São Paulo
Muito legal Parabens pela produção
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